Conversa com o Professor
Cara professora, caro professor, aqui você encontrará algumas orientações, sugestões e recomendações para o seu trabalho cotidiano e também para o uso das Unidades Didáticas propostas. Mais do que tudo, esses tópicos servirão como questões para a sua reflexão, e podem ser a todo momento renovados e ampliados, a depender da contribuição de todos os utilizadores do Portal. Vamos conversar?
Qual o diferencial do PPPLE em relação à oferta de materiais didáticos para o ensino e a aprendizagem de PLE/PLNM?
O PPPLE é um espaço de diálogo entre os diferentes países de língua portuguesa e suas variedades socioculturais de uso. Assim, a oferta dos materiais produzidos por cada um dos diferentes países da CPLP permitirá, por um lado, que o professor possa ter acesso a Unidades Didáticas de uma mesma variedade, contextualizadas em um determinado espaço geográfico, histórico e cultural, e salientando as suas especificidades, ou, por outro lado, que selecione unidades de diferentes contextos nacionais, realçando, assim, as diferentes possibilidades de uso da língua numa perspectiva de circulação internacional.
A quem se destinam os materiais e recursos disponíveis no Portal?
O PPPLE tem como utilizador principal o professor de língua portuguesa, em contexto de LE/LNM, embora esse não seja um fator limitador para utilizadores que atuem em outros contextos de ensino. Desse modo, por ter como destinatário privilegiado o professor, o PPPLE possui o grande potencial de disponibilizar, gratuitamente, materiais didáticos para o ensino-aprendizagem do português, os quais podem ser adaptados e atualizados, a depender das necessidades e interesses dos professores. Além disso, as UD sugeridas pelo Portal foram desenvolvidas de acordo com princípios contemporâneos que orientam o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras e, portanto, trazem inovações nos modos de se conceber a língua e o seu ensino.
Quantos e quais são os níveis de proficiência propostos no Portal e como foram definidos?
Os níveis das Unidades Didáticas foram definidos a partir de um esforço de compatibilização entre os referenciais já existentes, nomeadamente o Quadro Europeu Comum de Referência (QECR) e o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras), com o objetivo de encontrar denominadores comuns que servissem de orientação para a elaboração dos materiais do Portal. A partir da disponibilização do material no Portal, cabe aos professores analisarem e selecionarem as Unidades Didáticas de acordo com os níveis definidos no seu contexto de atuação.
Os níveis de proficiência das Unidades Didáticas do PPPLE foram definidos conforme os quadros a seguir:
No Nível 1, o aluno evidencia um domínio operacional limitado da língua portuguesa, demonstrando ser capaz de compreender e produzir textos de gêneros e temas limitados, em contextos conhecidos.
Trata-se de alguém, portanto, que usa estruturas simples da língua e vocabulário reduzido, interagindo em situações limitadas e em contextos socioculturais restritos.
No Nível 2, o aluno evidencia um domínio operacional parcial da língua portuguesa, demonstrando ser capaz de compreender e produzir textos de variados gêneros e temas relativamente diversos, em contextos conhecidos e em alguns desconhecidos, em situações simples e em algumas relativamente mais complexas.
Trata-se de alguém, portanto, que usa estruturas simples e algumas complexas e vocabulário adequado a contextos conhecidos e a alguns desconhecidos, interagindo em diferentes contextos socioculturais.
No Nível 3, o aluno evidencia domínio operacional amplo da língua portuguesa, demonstrando ser capaz de compreender e produzir, de forma fluente, textos de gêneros e temas diversos, em situações de uso conhecidas e desconhecidas, simples e complexas.
Trata-se de alguém, portanto, que usa estruturas complexas da língua e vocabulário adequado e amplo, interagindo com desenvoltura nas mais variadas situações que exigem domínio da língua-alvo e em diferentes contextos socioculturais.
O estabelecimento desses níveis, no entanto, faz parte de um processo mais amplo de investigação e de reflexão do grupo de especialistas que integram a Equipe Assessora Central do Portal, assim como as equipes nacionais responsáveis pela produção das Unidades Didáticas de cada país. O uso e a produção de novas UD contribuirão para aprimorar a descrição de cada nível e para o estabelecimento de equivalências mais aprofundadas entre os diferentes sistemas tomados como referência.
O que é trabalhar com a língua em uso?
Na concepção de língua como atividade social, adotada neste Portal, os contextos nos quais a língua emerge são essenciais para a interpretação do que é dito, quando, por quem, para quem e para quê, ou seja, do uso efetivo da língua. Nessa perspectiva, todo o sentido é construído pelos participantes na interação de modo dialógico. Isso quer dizer que as Unidades Didáticas do PPPLE pretendem levar os alunos a estudarem a língua portuguesa pensando sempre em uma aprendizagem contextualizada, pois a mesma estrutura linguística pode contribuir para atingir diferentes propósitos de comunicação.
Todo o encontro interacional é crucialmente marcado pelo mundo social que o envolve: pela instituição, pela cultura e pela história. Isso quer dizer que os eventos interacionais não ocorrem em um vácuo social. Ao contrário, ao se envolverem em uma interação, tanto escrita quanto oral, as pessoas o fazem para agir no mundo social, em um determinado momento e espaço, em relação a quem se dirigem ou a quem se dirigiu a elas. É nesse sentido que a construção do significado é social.
Aprender uma língua implica usá-la nas mais variadas situações de comunicação. Uma proposta tem sido o trabalho com as habilidades de ler, escrever, falar e ouvir de modo integrado, ou seja, a partir de um texto escrito podemos produzir outro texto escrito ou um texto oral; ao mesmo tempo, a partir de um texto oral podemos produzir outro texto oral ou um texto escrito.
Assim, o uso de uma língua, abrangendo a sua aprendizagem, inclui as ações realizadas pelas pessoas que, como indivíduos e como atores sociais, desenvolvem um conjunto de competências gerais e, particularmente, de competências linguístico-comunicativas.
Qual o conceito de proficiência que fundamenta o PPPLE?
A partir de uma concepção de língua em uso, o conceito de proficiência que fundamenta o PPPLE pressupõe que ser proficiente é ser capaz de usar a língua adequadamente com propósitos sociais (CLARK, 1996; CONSELHO da EUROPA, 2001) ou ser capaz de usar “a língua para desempenhar ações no mundo” (BRASIL, 2011, p. 4). Nesse caso, portanto, não falamos de uma proficiência única, mas de “proficiências” ou níveis de proficiência distintos, definidos a partir da reflexão sobre a natureza da linguagem em situações variadas de uso da língua.
Como a relação entre língua e cultura é entendida e apresentada no material disponível no PPPLE?
A relação entre língua-cultura e o seu entendimento como instância fundamental para o desenvolvimento de um processo intercultural de ensino/aprendizagem de línguas significa considerar que as experiências de trabalho com a língua em uso serão sempre ações situadas, relacionadas a eventos e contextos reais de vivência dos interlocutores.
Ensinar e aprender PLE/PLNM sob a orientação de uma abordagem intercultural, de modo a promover experiências de vida entre diferentes culturas, significa contribuir para a criação de zonas de negociação, de espaços “inter” ou entrelugares. Na construção conjunta desses espaços, o elemento fundamental e catalizador das experiências de ensinar e aprender é a língua de mediação, no caso específico da nossa reflexão, o português. Nesse sentido, quando ensinamos e aprendemos o português, estamos tratando de uma dimensão muito maior do que um conjunto de formas e suas regras de combinação, mas de um modo de ser e de viver através da linguagem.
Nas atividades programadas em cada Unidade Didática e nas experiências de uso da língua por elas desencadeadas, a língua e a cultura dos países que integram a CPLP estarão juntas, sendo representadas pela infinidade de materiais e recursos disponíveis nos diferentes contextos e esferas de interação e comunicação. Portanto, todos os produtos das línguas-culturas em português (textos escritos, áudios, vídeos, artes visuais etc.) serão o ponto de partida para o desenvolvimento de ações de linguagem e de reflexões sobre essas ações.
O que são materiais autênticos?
Os materiais utilizados na proposta das atividades das Unidades Diáticas são, preferencialmente, materiais autênticos, ou seja, materiais que circulam nos espaços reais de uso da língua portuguesa. Embora a autenticidade seja sempre relativa, visto que normalmente deslocamos os materiais de seus ambientes de uso e os levamos para a sala de aula, ainda assim são representativos de experiências situadas e reais de interação e comunicação, nas quais os sujeitos agem através da língua.
São exemplos de materiais autênticos: vídeos e áudios gravados da TV, rádio ou internet, textos de livros, jornais, revistas, internet, guia turístico, cardápio, propagandas, dentre outros.
Todos os materiais utilizados na elaboração das Unidades Didáticas estão devidamente referenciados a partir da explicitação de fontes de onde foram retirados. Além de levar ao conhecimento de professores e alunos a origem do material, a presença das fontes permite a exploração dos textos originais na íntegra, quando a atividade proposta na Unidade Didática tenha usado apenas fragmentos dos originais. Cabe ao professor analisar e decidir se a exploração do material na íntegra seria possível com o grupo e se ofereceria contribuições para a aprendizagem de PLE/PLNM.
Qual o tempo previsto para a realização de cada Unidade Didática?
O tempo pedagógico representa a duração, em minutos e horas, destinada à realização das atividades programadas em uma determinada Unidade Didática. Para assegurar, então, que haja equilíbrio e coerência entre as Unidades de um mesmo conjunto (ex.: Moçambique), é necessário que estas tenham o mesmo tempo pedagógico planejado. O tempo estimado para cada Unidade Didática é de aproximadamente 2 (duas) horas.
Embora tenha sido estabelecido esse tempo para assegurar o equilibrio entre as unidades, reconhecemos que a realização concreta de cada experiência de desenvolvimento das atividades em sala de aula serão influenciadas por diferentes fatores como, por exemplo, o ritmo de aprendizagem dos alunos, o que poderá alterar a duração das aulas.
Em relação às atividades de cada Unidade Didática, o tempo pedagógico refere-se ao equilíbrio das experiências de uso da língua e a como estas experiências estão relacionadas do ponto de vista de sua duração. Assim, não se deve, por exemplo, realizar a leitura de um texto em uma hora e destinar dez minutos apenas para se produzir um texto opinativo sobre o tema tratado.
Como as unidades didáticas foram concebidas e quais são suas caraterísticas?
As Unidades Didáticas representam um conjunto de atividades integradas, que foram elaboradas a partir de situações de uso e de expectativas de aprendizagem. Essas Unidades foram organizadas por níveis de proficiência e por variedades de uso da língua dos países e culturas em língua portuguesa integrantes do PPPLE.
Apesar de as Unidades Didáticas apresentarem uma equivalência de carga horária (aproximadamente 2 horas) e certa ordenação, dados os diferentes níveis de proficiência, isto não significa que os cursos sejam organizados rigidamente e que haja uma ordem de trabalho ou sequência didática obrigatória. Pelo contrário, um dos princípios do PPPLE é a flexibilidade e a abertura, de modo que o professor possa transitar pelo Portal, selecionando diferentes Unidades Didáticas, de variedades nacionais distintas do português, a depender do nível de proficiência de seus alunos e dos interesses e necessidades que apresentem.
Todas as Unidades Didáticas estão estruturadas de modo a compartilharem características em relação ao formato e às etapas de apresentação das atividades. Para cada unidade são apresentadas: a situação de uso, marcadores temáticos, as expectativas de aprendizagem, a atividade de preparação, o bloco de atividades, a extensão da unidade e a atividade de avaliação.
O que são as situações de uso?
Uma situação de uso é vista aqui como uma ação de linguagem que oferece uma gama de oportunidades de trabalho com a língua, e que pode ser explorada em diferentes contextos, com variados propósitos de comunicação e interação, com diferentes interlocutores. A situação de uso não deve ser vista como o meio para se realizar a ação de linguagem, mas é a própria ação em si.
São exemplos de situação de uso: apresentação de si mesmo ou de alguém; candidatura à vaga de emprego; explicação das etapas de elaboração de uma receita culinária, entre outros. As situações de uso poderão envolver mais de uma habilidade ou eixo. Então, para opinar sobre um filme assistido é preciso, antes de tudo, assistir ao filme (compreensão oral). Essa ação de linguagem pode pressupor ações de linguagem complementares que combinem ainda outras habilidades, tais como ler uma sinopse ou uma crítica do filme antes de se posicionar a respeito, ou ainda compará-lo com outros filmes do mesmo gênero, ler uma biografia do diretor etc. A manifestação de uma opinião sobre o filme, por sua vez, pode ser feita oralmente ou por escrito (produção oral ou escrita) e compor gêneros distintos, tais como conversa, debate, resenha crítica, apresentação, podendo ser veiculada em canais diversos (livro, revista, cartaz etc.).
Essas ações de linguagem complementares, necessárias para produzir língua portuguesa de acordo com a situação de uso definida para a Unidade Didática, serão descritas nas expectativas de aprendizagem.
Como se definem as expectativas de aprendizagem?
Entende-se por expectativa de aprendizagem o que se espera que o aluno seja capaz de realizar como ações de linguagem a partir situação de uso definida para a Unidade Didática. Para isso, é preciso considerar as habilidades linguísticas que serão propostas nas atividades (ouvir, ler, falar e/ou escrever), além dos aspectos lexicais e gramaticais que as atividades irão explorar.
As expectativas de aprendizagem, desse modo, orientam a elaboração das atividades que integram as Unidades Didáticas, visto que representam as metas a serem atingidas no processo de aprendizagem do aluno. São exemplos de expectativas de aprendizagem:
- Saber argumentar a favor de um ponto de vista, oralmente e por escrito.
- Identificar as ideias principais em um texto, para resumi-lo depois.
- Escutar a fala do outro, em um debate, e saber contra-argumentar.
- Apresentar-se e apresentar um colega oralmente e por escrito.
- Apresentar formas alternativas para expressar as mesmas ideias.
- Localizar países e regiões em mapas.
- Familiarizar-se com a identificação e aprender a produzir o gênero “currículo”.
- Produzir texto para concorrer a uma vaga de emprego.
Para que serve a atividade de preparação?
A atividade de preparação para o trabalho com a Unidade Didática pressupõe o momento de sensibilização do aluno para o desenvolvimento das ações de linguagem previstas, bem como a ativação dos seus conhecimentos e experiências prévios. Por isso, essa etapa da aula é muito importante, uma vez que antecipa situações, revela os conhecimentos que os alunos já têm, assim como suas dificuldades, e também aponta direcionamentos para a condução da unidade.
O que o professor tem que considerar ao desenvolver as atividades do Bloco de atividades?
O Bloco de atividades tem como objetivo proporcionar um conjunto de experiências de uso da língua que visa alcançar as expectativas de aprendizagem estabelecidas no início da Unidade Didática.
As atividades, por sua vez, são organizadas a partir de estímulos, por meio de materiais representativos da variedade de uso de cada país em foco. Assim, uma atividade tem sempre algum texto escrito, um vídeo, uma imagem etc., a partir dos quais as experiências de uso da língua terão lugar.
Como as atividades da Extensão da Unidade podem ser abordadas?
A extensão da Unidade Didática são atividades que complementam e expandem as ações de linguagem trabalhadas na Unidade Didática ou que desencadeiam experiências mais amplas de investigação, produção, entre outras coisas, e que podem ser utilizadas como tarefas em sala de aula ou podem ser realizadas posteriormente.
São exemplos de atividades de extensão da Unidade: a realização de exercícios e de tarefas a partir de reflexões sobre a língua, o desenvolvimento de pesquisa sobre tema discutido, a visita a locais de interesse, a participação em eventos, a produção de textos, vídeos etc.
Como sistematizar o conteúdo aprendido e organizar as próximas etapas de ensino e de aprendizagem?
Cada Unidade Didática é acompanhada por atividades que sistematizam e retomam as ações de linguagem trabalhadas para avaliar a aprendizagem do aluno. São exemplos de atividades desta seção: exercícios, pesquisas, projetos, produção de textos etc., sendo também, muitas vezes, uma importante oportunidade de extensão da Unidade. A partir das informações coletadas com a realização dessas atividades, o professor tem um diagnóstico da aprendizagem dos alunos e pode reorganizar o ensino de modo a preencher as lacunas ainda existentes no desempenho dos alunos.